Então o povo brasileiro esta desenhando a realidade... O que está por detrás dessa onda de protestos, que ao poucos, vai ocorrendo em todo o país? Até minha cidade (Tupã-SP), ainda timidamente, aderiu ao protesto no último dia 17 do corrente, perto de uma centena de pessoas se concentraram em frente à câmara municipal e gritavam temas de ordem geral. Historicamente em nosso país, protestos nunca acabam muito bem. Mesmo quando se consegue alguns resultados como ocorreram nas "diretas já" e no "impeachment de Fernando Collor", além é claro do período militar que gerou a famigerada Revolução de 64, o povo paga caro, pois muitos políticos ainda continuam no poder além dos novos que chegaram, impõe ao povo muita dor e sofrimento. Mas como diz o ditado, não se faz omeletes sem quebrar ovos.
Desde o descobrimento ainda não conseguimos abandonar os embates e construirmos um país para todos, pois ele “pertence” em regra geral aos governantes de plantão e aos seus apaniguados, e à patuleia (o povo, a plebe), dão esmolas, não permitindo que alcancem acesso à educação, à saúde, ao bem estar, enfim ao crescimento. Estes políticos não se veem como empregados do povo e só usufruem do poder que o cargo lhes confere. Porém, não deixemos de reconhecer que nos últimos anos, os governos de FHC, Lula e agora a Dilma, criaram melhores condições para a realidade brasileira. “Essas mudanças, principalmente as da última década (dois governos Lula e o atual da Dilma), o perfil socioeconômico do país mudou – e muito (mas há muito por fazer). A principal novidade foi o fortalecimento da classe C, composta por famílias que têm uma renda mensal domiciliar total (somando todas as fontes) entre R$ 1.064,00 e R$ 4.561,00 - dados de 2009.”. Esse é o maior indicador de que ocorreu uma considerável mobilidade social entre os anos 2004 e 2010, com 32 milhões de pessoas ascendendo à categoria de classes médias (A, B e C) e 19,3 milhões saíram da linha da pobreza”.
Diante da nova realidade os cientistas políticos Amaury de Souza e Bolívar Lamounier questionam se seriam sustentáveis os índices de crescimento dessa nova classe média. Talvez essa onda de protestos responda, ao menos parcialmente, está pergunta, ou seja, estaria esta classe em ascensão percebendo que estariam perdendo espaço de crescimento e resolveram reagir? Seriam eles o tal gigante a que acordou? Seria um medo latente de boa parte dessa nova classe C voltar à linha da pobreza? Importante ressaltar que os “94,9 milhões de brasileiros que compõem a nova classe média correspondem a 50,5% da população – ela é dominante do ponto de vista eleitoral e do ponto de vista econômico. Detêm 46,24% do poder de compra e supera as classes A e B (44,12%) e D e E (9,65%).”
De acordo com dados do instituto de pesquisa Data Popular, a classe C é responsável por 78% do que é comprado em supermercados, 60% das mulheres que vão a salões de beleza, 70% dos cartões de crédito no Brasil e 80% das pessoas que acessam a internet. “A nova classe média movimenta R$ 273 bilhões na internet por ano somente com seu salário”. Apesar de todo esse crescimento temos graves problemas com a saúde pública. Não se tem leitos hospitalares para internações, hospitais sucateados, sem equipamentos, péssimo atendimento, faltam cotas para exames, profissionais de saúde despreparados, enfim não temos uma saúde digna e capaz de corresponder às necessidades do povo. A questão do transporte público pago a preço de ouro para as empresas que exploram os serviços e caros para o bolso do cidadão é o mote para todos os demais protestos que estão ocorrendo. A questão do saneamento básico, do desmatamento, das áreas faveladas e marginalizadas, da falta de empregos, da falta de moradias, dos preços abusivos dos alugueis e da corrupção, etc. No tocante a questão da perda do valor de nossa moeda já vivemos tantos solavancos e estamos às voltas com novo período inflacionário, que ainda consegue ser mascarado com algumas ações, mas que já influi diretamente na qualidade de vida.
O governo gasta muito consigo mesmo. Em 2013 a Câmara dos Deputados e o Senado Federal devem gastar juntos R$ 8,5 bilhões, o equivalente a 23 milhões por dia. Há também outros auxílios concedidos, como o “auxilio paletó” com valor de 63 milhões/ano. Isso tudo pago com o assalto em nossos bolsos de uma carga absurda de impostos. E há quem critique o bolsa família, em geral concedida para famílias de extrema carência. Creio que tudo isto está latente na cabeça do povo e, vendo a imensa fortuna sendo liberada para construções e reformas de estádios para a próxima copa do mundo, o que estava latente, contido, “explodiu” na forma de protestos.
No momento da redação deste artigo (19-06, por volta das 18h20min), os governos dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e o da prefeitura de São Paulo recuam nos aumentos do transporte público, argumentando que os investimentos nesta área vão ser prejudicados. Ficaram com medo do gigante que acordou? Quem é esse gigante? Vão cessar os protestos?