Porque devemos entoar o hino fora Bolsonaro
Corria o ano de 1979, vivíamos em
pleno processo de violência da ditadura militar. Nós, alunos de Psicologia,
éramos considerados “naturalmente” subversivos ou comunistas. Inicialmente,
estudei na Universidade de Mogi das Cruzes, e nos utilizávamos do “trem do
estudante” que partia da estação Brás, com duração de mais de uma hora de
sacolejo até a universidade. Muitas vezes, naquele ano, quando do retorno de
Mogi para o Brás, o trem era parado no meio do caminho por militares com cães
raivosos. Descíamos todos e ficávamos no “paredão” ao longo dos vagões, às
vezes por horas, sendo interrogados e ameaçados de prisão. Motivo destas
paradas? Nunca nos disseram. Apenas para fazer pressão e quem sabe encontrar
algum comunista ou subversivo, o que naturalmente nunca ocorreu. Ouvíamos todo
tipo de acusação e pressão destes raivosos militares com seus cães de quem,
muitas vezes, sentíamos o bafo de seus latidos.
A partir destes episódios,
adquiri uma nova consciência de cidadão e sujeito capaz de viver e fazer a
história do meu país. No ano de 1982 me filiei ao Partido dos Trabalhadores,
que refletia o que eu pensava para a política e a realidade do povo brasileiro.
Apesar das mudanças e dificuldades dos seus dirigentes e da forte pressão do
antipetismo, continuo filiado e fiel aos princípios de direitos e liberdade e
justiça social. Em 1984, por exemplo, participei ativamente da campanha Diretas
Já, colaborando com a retomada da Democracia em nosso País.
Sempre fui dado a leitura, desde
a época do então ginásio. Além dos clássicos da literatura nacional, os
clássicos dos grandes escritores, como Os Miseráveis, de Victor Hugo, que
marcou profundamente minha juventude, motivando-me a uma concepção sobre a
realidade social.
Possuía naquele momento um vasto
conhecimento dos acontecimentos mundo afora, mesmo sendo de família humilde e
socialmente carente (frequentei muito bibliotecas), sendo necessários enormes
esforços (gratidão aos professores na minha caminhada) para alcançar um lugar
ao sol, assim como milhares de brasileiros o fazem até hoje. Criei e eduquei
dois filhos com visão e pensamento crítico da realidade de nossa história. Tiveram melhor sorte, por esforços e
dedicação da minha parte e da esposa/mãe (in memoria), educando-os para serem
pessoas que também poderiam - e estão fazendo - acontecer um novo mundo, pois
são éticos, honestos e trabalhadores.
Já vivenciamos períodos
dramáticos da história política do país. Desde a junta provisória militar
(agosto a outubro 1969) e os generais militares Medici, Geisel e Figueiredo –
Bolsonaro parece ser a “reencarnação” deste último). Em seguida vieram Sarnei
e, então, Collor com seu slogan de “Caçador de Marajás”, um paradoxo, pois era
um marajá. Tivemos, na sequência, Itamar, FHC, Lula, Dilma, o golpe, Temer e
Bolsonaro, este com o slogan “contra a corrupção”, apesar de fortes suspeitas
de que seja corrupto juntamente com seus familiares.
Estamos nesse exato momento da
história do Brasil com um presidente que não cumpre o juramento solene de
defender o país e ao seu povo. Apresentou-se como um salvador da pátria, a
exemplo de alguns, mas que fere de sangue nosso povo com uma política genocida,
homofobica, racista, mal educado, armamentista, eliminando direitos trabalhistas
e sociais, esgarçando a vida de milhares de brasileiros. Veio com apoio da
elite dos rentistas mais ferozes que temos no Brasil. Donos do capital e da
escravização do povo às condições miseráveis de trabalho e vida.
Com comportamento mitomaníaco (compulsão
pela mentira, contada de forma consciente, que tem por objetivo a autoproteção
ou, muitas vezes, o falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer
melhor), impõe-se como um ditadorzinho que brinca e humilha seu povo, parecendo
que está governando, mas não tem cultura e preparo para exercer papel tão
relevante. Portanto, um incapaz.
Bolsonaro destruiu a imagem do
país, que as duras penas Lula construiu, colocando o Brasil em destaque
internacional. São constantes as ameaças ao Estado de Direito e às minorias.
Entregou a economia nas mãos de
outro incompetente (Paulo Guedes) que não foi capaz de implementar uma política
econômica capaz de alavancar o processo de crescimento do país, piorando o que
Temer deixou de ruim.
Gostem ou não, a era Lula/Dilma
deu dignidade ao povo, colocando-nos em condições muito melhores do que neste
momento. O golpe, com Supremo e com tudo, tem origem na não aceitação, por
parte dos que detém o capital e seus asseclas, de se construir um país mais
igualitário e justo, mantendo o povo na condição de dependente, encabrestado e
tendo que se humilhar para sobreviver.
Diante de tudo isso, chega a
pandemia e tudo piora. Ledo engano dizer que o governo Bolsanaro tenha algum
mérito no auxilio emergencial. O mérito pertence ao Congresso que modificou o
valor inicial. Do contrário, a miséria teria sido pior.
A postura deste governo, com um Ministério
da Saúde atrelado, as ideias de Bolsonaro inepto e genocida. Em abril de 2020 o
Brasil foi convidado a fazer parte da Covax, a Aliança Mundial de Vacinas, uma
coalizão de 165 países para garantir vacina. Em 15 de agosto de 2020 a gigante
estadunidense Pfizer procurou o governo brasileiro para oferecer a venda de 70
milhões de doses da vacina. Resultado de tudo isso? Inépcia do governo.
Um estudo da Faculdade de Saúde
Pública da USP e a Conectas Direitos Humanos, chamado Direitos na Pandemia –
Mapeamento e Análise das Normas Jurídicas de Resposta à Covid-19 no Brasil, faz
uma afirmação contundente: “Nossa pesquisa revelou a existência de uma
estratégia institucional de propagação do vírus, promovida pelo Governo
brasileiro sob a liderança da Presidência da República. Ou seja, não se tratou
de incompetência ou negligencia, mas sim de sim de um empenho da União em prol
da ampla disseminação do vírus no território nacional.”
Basta analisarmos suas falas e
atitudes para ficar evidente o projeto genocida em curso.
Não foi sem razão que nos dias 23
e 24 de janeiro, foram promovidas carreatas "Fora Bolsonaro" por todo
o país, incluindo grupos de esquerda e direita, porque não suportamos mais esse
despreparado na presidência e sua política genocida. E Tupã não ficou de fora.
Fomos para as ruas, diante de uma cidade em que considerável parcela ajudou a
eleger Bolsanaro e sua trupe no governo.
Logo em seguida ao evento, meia
dúzia da galera agressiva e feroz iniciou os ataques, tentando desqualificar o
ato da Frente Brasil Popular, típico de gente sem argumentos, analfabetos
políticos, que se julgam donos da cidade. São aqueles a que chamamos de “pobres
de direita”, pois muitos destes, em razão de alguma pequena posição social, se
acham da elite financeira da cidade e do país.
Apoiam um governo que elevou os preços de tudo e que não é capaz de
promover uma política de regulação e abastecimento. O mais recente ataque é
contra o povo do Bolsa Família, com a proposta de se retirar dos municípios o
controle dos cadastrados, colocando isso em um simples aplicativo para piorar a
exclusão.
Entendo que grande parcela dos
eleitores tupãenses o fez indo na onda do antipetismo, tão bem incrustado na
mente do eleitor incauto, pela mídia comprometida com o golpe parlamentar.
Também caíram no conto de que ele iria “combater a corrupção”, sendo um grande
corrupto, envolvido em falcatruas juntamente com seus filhos.
Porém uma outra parcela, não tão
grande como parece (são barulhentos e furiosos, seguindo seu líder MITOmaniaco,
porque se identificam com suas características), assumiu um papel arrogante e
desafiador da realidade política de nosso povo. Esta parcela da sociedade apoia
um governo que desmonta a estrutura social, a cultural, a educacional, que
foram construídas ao longo das últimas décadas com muita luta e esforço. A
cegueira e a insensibilidade são tamanha que, veja o comentário de um dos seus
fanáticos seguidores. O post se referia ao preço do gás a R$ 105,00, e ele responde:
“Barato... Vai rachar lenha para você ver, tem que amolar enxada, muito
cansativo. R$ 250,00 tá baratinho.”
Os motivos e razoes são muitos
para se enquadrar o presidente em crime de responsabilidade contra o povo e às
leis. Precisamos tomas as ruas. Somente o barulho e o calor das ruas podem
modificar esse panorama, do contrário iremos amargar muito por irresponsável
omissão.
Finalizo parafraseando com uma
estrofe da música A Terceira Lamina:
“Acho que os anos irão se passar
Com aquela certeza que teremos no
olho
Novamente a ideia de sairmos do
poço
Da garganta do fosso, a voz de um
cantador: #ForaBolsonaro