quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

VOCÊ QUER A MULATA OU A BRANQUELA ?

Se o conteúdo deste tema não fosse trágico, ainda assim seria trágico. Imagine que você possa se hospedar em um luxuoso hotel, nas grandes capitais do país e ter acesso a um book fotográfico onde poderá fazer a escolha pela mulata ou pela branquela...

Estamos relatando aqui os episódios do tráfico de pessoas que ocorre a nível mundial. Na atualidade, depois do tráfico de drogas e armas, é o segmento do crime mais rentável da humanidade, movimentando perto de doze bilhões de dólares ano. Nesse trágico quadro estão presente o maior contingente de mulheres, crianças e adolescentes, incluídos os homossexuais e os transexuais, que ainda são alvo de muito preconceito no mundo todo. Estas pessoas são aliciadas por agenciadores do tráfico, explorando-lhes circunstâncias e realidades que vivenciam, em geral em situação de extrema miséria.

No Brasil temos trinta e dois milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria, o que significa viver com um dólar/dia para sobreviverem. Estes, em regra geral são alvos preferenciais, além dos homossexuais e de outra camada da sociedade que são jovens, de ambos os sexos, que vivenciam períodos transitórios de suas vidas, geralmente o período da adolescência, estando presentes, carências sócio-afetivas e materiais que são fatores propícios ao encantamento e a ilusão de uma vida fácil e de muito ganho financeiro. O tripé "oferta, demanda e impunidade" explica o tráfico de seres humanos, a miséria, a fome, a falta de educação e de condições de trabalho fazem com que um país oferte sua população para o tráfico de seres humanos, colocando o Brasil como o maior exportador de mulheres e crianças para o mundo, para fins de exploração sexual.

Uma vez aliciadas, passam a serem assistidas por estes agentes que lhes atendem a algumas necessidades imediatas, ou com promessas de rápida melhora de vida, envolvendo-se, inclusive, no meio familiar destes, criando até vínculos duradouros. Diante de tamanha habilidade e persuasão, raramente as vítimas deixar de cair nesse canto de sereia. Uma vez transladados, seja para outros estados do país, ou para países estrangeiros, tudo se revela opostamente ao anunciado. A partir daí seus documentos e/ou passaporte são confiscados e se tornam clandestinos em um país onde não falam a língua natal, não conhecem a cultura e a estrutura social, sujeitos, portanto, às injunções pertinentes ao seu Status Quo e passam a ser exploradas em boates, casas de prostituição, casas noturnas, em geral submetidas ao trabalho escravo, deixando seus rendimentos nas mãos do seu agenciador, que passam a administrar suas vidas. Se ocorrer de algumas se rebelarem são ameaçadas e amedrontadas com o fato de estes lhes lembrarem de que a não obediência poderá acarretar em prejuízo de seus familiares, os quais conhecem e suas vidas poderão correr riscos...

Fica muito fácil compreender as consequências e a resistência de tal escravidão. Até mesmo juízes não conseguem interpretar ou compreender tal realidade. As mulheres brasileiras mais valorizadas no "mercado internacional" são as mulatas, bastante requisitadas na Espanha, Portugal, Itália e Suíça. Atualmente, as mulatas já estão também entre as preferidas dos japoneses e norte-americanos. Quando ocorrem grandes movimentos sociais em nosso país, como a festa do peão de boiadeiros de Barretos, os agentes do tráfico atuam intensamente na busca de suas futuras vítimas, em razão da concentração de milhares de jovens, de todas as partes do Brasil, incluindo do exterior. Estes últimos podendo ser alvos para serem aliciados e permanecerem por aqui.

Temos uma realidade peculiar em dois grandes estados do Brasil, Goiás e Minas Gerais, que ocupa a segunda posição no ranking nacional de tráfico de pessoas, as mulheres são aliciadas, em sua maioria, na região Central e do Triângulo Mineiro e, em menor escala, no Leste e Sul do Estado. O perfil dessas mulheres é bem definido: 18 a 30 anos, brancas, de baixa escolaridade e mães solteiras, que deixam os filhos com os avós e partem para aventuras que se transformam em grandes pesadelos, sendo que, em 90% dos casos, elas são levadas para Itália, Espanha, Portugal e Suíça. O Estado de Goiás ocupa a primeira posição do ranking nacional, atividade que submete suas vítimas a cárcere privado, exploração sexual, consumo de drogas, ameaças, trabalho escravo e venda de órgãos humanos. De acordo com dados de inquéritos apurados pela Polícia Federal, com uma população sete vezes menor que a de São Paulo, o Estado goiano foi responsável, nesta década, por 140 (18,6%) dos 750 casos registrados em todo o País nesse período.

As pessoas se assustam quando se fala em tráfico humano na modernidade, acreditando que está realidade só ocorria no passado da humanidade. Mas será que é tão simples e fácil definir ou tipificar o crime de tráfico humano? De acordo com o protocolo de Palermo (acordo internacional para combater o crime organizado e transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças), “É considerado tráfico de seres humanos o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, que se vale de meios criminosos como ameaças, uso da força e outras formas de coação e abuso de autoridade”. Tal definição pode sugerir a ideia de que é muito fácil caracterizar o tráfico humano. Grande engano. A escravidão, principalmente da mulher, se dá desde todos os tempos, como se pode ler nestes escritos: “A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?” Zaratustra (filósofo persa, século VII a.C, ou "A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior." Aristóteles (filósofo, guia intelectual e preceptor grego de Alexandre, o Grande, século IV A.C.).

Triste raça humana...

VALCI SILVA
PRESIDENTE DO COMITÊ TÉCNICO DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS DE MARÍLIA E REGIÃO

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